A pouco tempo visitei um prospect (cujo nome não vou revelar por motivos
óbvios) que ilustra aquilo que gostaria de tratar nesse post.
O empresário é um pequeno fabricante de produtos alimentícios da
região. Ao saber que tenho um estúdio de design, me chamou imediatamente, pois
“precisava muito dos meus serviços”.
O proprietário é um senhor de forte personalidade, que está a
muito tempo na área, e sabe muito a respeito do próprio negócio. Tive uma
excelente impressão de sua fábrica. Tudo excepcionalmente limpo, claro. Me
explicou que montou seu negócio com o que há de melhor. Me mostrou fornos
importados, maquinário de primeira. Disse que treinou seu pessoal. Contou
planos de expansão. Ao me explicar que faz eventos e monta restaurantes
itinerários, disse que não é mesmo a opção mais barata, por que serve coisa
boa.
“Já tenho uma pessoa que faz esse serviço de design para mim”,
explicou. “Mas não está me atendendo bem. Eu peço uma coisa, ela demora, trava.
Não me dá prioridade”. Me pediu orçamento para um pacote de serviços, com
urgência, o que fiz prontamente.
Dias e dias depois, como não tive retorno dele, retomei o contato,
para saber se houve algum problema. Sem muitos rodeios ele disparou: “Achei
caro, Rodrigo”.
Argumentei que não era um pacote pequeno. Que haviam várias horas
de trabalho envolvidas, que poderíamos conversar e rever as expectativas dele.
Não teve muita conversa. Aparentemente, ele voltou a achar seu primeiro
fornecedor (aquele que não o estava atendendo bem) uma opção mais viável.
Devo reconhecer que não sou o profissional mais barato do mercado.
Nem quero ser. Não sou saco de cimento, ninguém me compra a quilo. Porém, estou
longe de ser o mais caro. Como tenho uma estrutura enxuta, com poucos
gastos, consigo manter um valor que considero justo, e até atraente.
A atitude do cliente está longe de ser algo isolado. Se
estudarmos, poderemos entender o que está por trás, sem julgá-lo, sem
demonizá-lo.
O pequeno
empresário começou agora a perceber que precisa de design para sua empresa ser
percebida. Isso é novo pra ele. Até pouco tempo, nem isso havia. Mas está
entrando em seu sistema como uma obrigação. Um passo para se tirar da frente,
assim como o contador e local de atendimento. Ele ainda não enxerga o design
como peça fundamental no processo de construção de sua marca. Aliás, o conceito de possuir, ser dono de uma
marca (e não somente de uma empresa) ainda não tocou o sino na cabeça do
pequeno empresário brasileiro.
As grandes empresas, que são donas de grandes marcas, já atentaram
para essa realidade há algum tempo. Vemos casos de branding cada vez mais
complexos, mais assertivos. Vemos empresas contratando CEOs que, à exemplo de
Steve Jobs, têm senso estético apurado e bom trânsito com as áreas de marketing
e criação.
Nas pequenas e médias empresas, no entanto, o que vemos é um
distanciamento, um certo medo de confiar num designer, e uma atitude um tanto
receosa quanto à esse profissional. Como se o empresário quisesse tirar logo
essa etapa da frente. É comum ouvir dizer: “preciso do logo pra poder fazer
cartão e começar a vender”. É como um tiro certo, mas fora do alvo. A empresa
precisa sim, do logo, mas pensa nele como uma peça apartada. Como um processo
separado do que a empresa é, não como parte de um processo que ajuda o
empresário a definir suas metas e identidade.
Por isso, quando faz uma análise do profissional que vai escolher,
acaba com o mais barato, ou soluções de crowdsourcing, ou pior ainda, com o
sobrinho mesmo. Afinal, é só uma “marquinha” que ele precisa, a loja (ou
empresa) já está pronta, ele já tem os profissionais. Na cabeça desse
profissional, aquele símbolo não representa mais do que algo bonitinho na
fachada ou no cartão.
Na verdade, se analisarmos o mercado internacional, veremos que a
situação é inversa. As grandes empresas investem quantias absurdas de dinheiro,
é bem verdade. Mas justamente por estarem atreladas a compromissos com
acionistas, conselhos enormes de diretores, com linha gigantes de produtos,
todas as decisões tem a tendência de seguir por caminhos considerados seguros,
e por consequência, com pouca inovação.
A grande ruptura, as ações mais inventivas e surpreendentes vêm
das pequenas e médias. Por poderem experimentar, podem ousar. Podem tentar, e
se não der certo, corrigir o rumo. Uma grande empresa raramente tem essa
oportunidade.
São as
pequenas empresas que mais interferem na paisagem urbana. A mudança de patamar
visual nessas empresas faria muito mais bem às cidades do que qualquer projeto
“Cidade Limpa”.
Pequenas empresas podem investir num relacionamento com seu
designer muito especial. Onde aquele que te atende é o mesmo que sentará ao
computador para desenvolver sua ação de marca. Onde o proprietário do estúdio
pode visitá-lo pessoalmente, discutir com profundidade os rumos que pretende
tomar. Ao ser atendido por uma grande agência, isso não vai mais acontecer. Via
de regra, o empresário não terá contato com quem está cuidando de seu material.
Creio que o pequeno empresário brasileiro ainda acordará para essa
realidade. Ainda verá o grande aliado que um bom design pode ser para seu
negócio. E então, ele deixará de ver o design como um custo, e passará a ver
como um investimento.
Empresas, designers e sociedade ganharão muito quando este dia
chegar.
(As imagens desse post são de pequenas empresas do exterior que
estão fazendo coisas bacanas em termos de design. Claro que existem empresas
assim no Brasil, mas a facilidade de encontrá-las lá fora é bem maior…)
Nenhum comentário:
Postar um comentário