terça-feira, 28 de maio de 2013

O MILAGRE DO E-COMERCE

Se você tem uma loja de calçados no centro de São Roque, atenção aqui. Milagre ou planejamento? Seja como for, o fato é que a Netshoes, uma espécie de império digital criado pelo empresário Marcio Kumruian, já entrou para o seleto clube das empresas brasileiras com faturamento anual superior a 1 bilhão de reais, tornando-se uma das maiores varejistas online do país. Apenas 0,02% das empresas brasileiras compõem o quase utópico “clube do bilhão”.
A trajetória é impressionante. Tudo começou no ano 2000, com uma humilde lojinha de calçados no centro de São Paulo, na Rua Maria Antônia, com um investimento inicial de 50 mil reais. Dois anos depois, eles decidiram aderir a um programa do Banco Real que oferecia lojas virtuais a comerciantes. Desde então, a curva de crescimento da loja dobrava ano a ano. 2007 foi o ano em que a Netshoes fechou todas suas sete unidades físicas para apostar, única e integralmente, no negócio online. Foi a tacada certa.
Em 2011, a Netshoes já faturava cerca de 717 milhões de reais e já fazia ações arrojadas de marketing, como por exemplo o patrocínio de alguns clubes e da seleção brasileira de futebol com razão, já que 35% do faturamento da empresa é proveniente de artigos relacionados a futebol. Nos últimos 5 anos, seu faturamento dobrou 40 vezes. No ano passado a loja esportiva de Kumruian recebeu um aporte de 135 milhões de reais dos fundos de investimentos Temasek e Iconiq (que tem Mark Zuckerberg, do Facebook, entre os investidores).
Márcio Kumruian na capa da revista Exame, notoriedade e respeito do mercado

Mas o que levou a empresa a ter tanto sucesso? O simples gosto do brasileiro por esportes? Sim e não. O trauma de quase ter quebrado na tentativa de expandir com as lojas físicas é que levou a empresa a vislumbrar o e-commerce. Sim, o fracasso também é importante.
Em um cenário onde a compra online é quase sinônimo de reclamações, eles alinharam atendimento, logística, entrega expressa, tecnologia e exclusividade com maestria. A lição logística, por exemplo, está no fato de a empresa ter instalado um posto dos Correios dentro do centro de distribuição, minimizando os custos de transporte. Pioneira, a loja inovou também ao criar uma versão para smartphones e tablets. Um acordo com empresas como Nike e Adidas permitiu disponibilizar cerca de 400 produtos (dentre seus 38 mil itens) exclusivos.
Outra sacada no microambiente (ação interna) foi colocar um grupo de professores de educação física para trabalhar no Call Center. Isso fez com que a Netshoes se tornasse a única dentre as 15 maiores empresas de comércio eletrônico do Brasil a receber o conceito “ótimo” no Reclame Aqui.
Fora tudo isso, o marketing, claro, teve o seu papel. A empresa chegou a ser a maior anunciante da internet brasileira em 2011, enquanto na última década os hábitos de navegação virtual no país cresceram exponencialmente, tanto em número de usuários como em número de compradores online são dois gráficos de uma curva diagonal, apontando para cima constantemente.
Se considerarmos que o varejo online representa apenas 4,6% do total do comércio (embora cresça, em média, 25% ao ano no Brasil), ainda há muito espaço para crescer e certamente para brigar. Afinal, a concorrência é
diretamente proporcional ao crescimento. Centauro e Dafiti, por exemplo, já estão de olhos arregalados nessa atraente fatia digital. Hoje, com a responsabilidade de entregar os 30 mil pedidos de compra diários, Marcio e sua equipe ainda almejam tornar a Netshoes a primeira empresa brasileira a abrir as ações na Nasdaq.

Texto: Felipe Chesine
Fonte: Revista Exame
Imagem: Divulgação
Edição: Lilá Araujo

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